Combustíveis em alta. Carros eléctricos são solução?

Publicado a por Eduardo

Ponto de carregamento de veículos eléctricosEstamos novamente numa daquelas alturas em que a comunicação social se foca no preço dos combustíveis porque voltaram a preços próximos dos praticados no pico do valor do Brent em 2008. Digo próximos porque o gasóleo ainda está 10 cent/litro mais barato e a gasolina cerca de 1cent/litro mais barata, e isto com o aumento de 2% do IVA já associado.

Não estou aqui a defender as gasolineiras, mas devemos ser justos e apresentar as coisas como elas são.

E com isto volto ao mesmo tema de sempre. Foi preciso todo este ruído para voltar a ver carros a 100km/h nas auto-estradas e menos trânsito no meu percurso para o trabalho. Uma notícia que refere um aumento de 2cent/litro tem este impacto, mas as subidas constantes desde 15 de Outubro não tiveram este impacto. Em quase 3 meses o preço médio da gasolina de 95 octanas subiu 14 cent/litro, o que equivale a mais de 6 euros por depósito de aumento para um citadino comum.

Ao ler os comentários de certos jornais online não sei se ria porque estou a ver alguém na paródia ou se chore porque os portugueses não sabem gerir o seu orçamento e atribuem as culpas ao governo porque não sabem mais.

Depois aparecem os eco-terroristas (deixa-me preparar para a chuva de milho transgénico) a falar da utilização de bicicletas, scooters eléctricas e carros eléctricos. A bicicleta está fora de questão, só para curtas distancias, a não ser que possam tomar banho no emprego mas aí gastam água e gás e voltamos ao mesmo. As scooters são interessantes para curtas distancias e têm um preço acessível. Então e os carros eléctricos?

Carros eléctricos continuam sem ser solução

Vamos pensar um pouco, queremos poupar dinheiro no custo do combustível, que infelizmente para alguns é uma boa percentagem do orçamento mensal. Investir num carro que gaste menos pode ser bem pensado, mas temos que fazer bem as contas.

Primeiro temos que pensar que estamos numa altura em que as poupanças estão em baixo, portanto comprar uma viatura de valor superior a 20.000 Euros para grande parte das famílias portuguesas é impensável, para outras comporta um esforço financeiro considerável. Se a nova viatura consumir menos 1 ou 2 litros a poupança só começa quando o novo carro estiver em fim de vida, e por vezes nem isso.

Ora, um carro eléctrico custa mais 10.000 Euros, o Leaf por exemplo vende-se por 31.000 Euros e estima-se que o MiEV/iON/C-Zero seja vendido pelos mesmos valores. É certo que um carro eléctrico tem um custo por 100km pouco superior a 1€ e um carro muito económico a GPL ou Gasóleo ronda os 6.5€ aos preços actuais, mas um carro eléctrico só funciona em casos específicos e normalmente como segunda viatura.

No meu caso um carro eléctrico seria interessante porque tenho pontos de carregamento quase à porta do meu emprego e o meu percurso casa/trabalho é muito inferior à autonomia de 160km. No entanto não o posso carregar em casa e não posso andar com ele ao fim de semana porque faço por vezes viagens superiores a 200km. É certo que apareceram pontos de recarga rápidos que carregam em 30 minutos as baterias até 80%, mas a primeira apareceu nos EUA em Agosto e em fase experimental. Em Portugal são raros os pontos de carregamento "normais" que demoram 6 a 8 horas, estes de 30 minutos são inexistentes. Isto ia-me obrigar a ter dois carros, portanto investir 31.000 Euros e manter duas viaturas com a sua manutenção, seguro e imposto de circulação.

O meu carro actualmente tem um custo por 100km de 8.67 Euros, portanto em cada 100km com um Leaf iria poupar cerca de 7.5 Euros. Feitas as contas iria precisar de percorrer 400.000km com um Leaf só para ter um retorno do investimento do valor do carro.

Caso a utilização do carro seja meramente citadina e se compararmos com uma viatura do segmento do Leaf com consumos de 6 litros chegamos a um ponto de retorno de investimento mais rápido, mas mesmo assim estamos a falar de 120.000km o que equivale a uma utilização intensiva para um citadino.

Mesmo nos híbridos as contas não mudam muito, mas o seu preço de aquisição é mais baixo e permitem uma utilização diária diferente, por consumirem também gasolina.

Estes exemplos servem apenas para comparação económica, estamos a falar de comprar um carro novo, por vezes com mais equipamento. A ausência de ruído e poluição local também não tem preço.

Os carros eléctricos são interessantes, e quanto mais caros os combustíveis mais vantajoso será optar por estas energias alternativas, mas por enquanto do ponto de vista monetário não compensam. O ideal para poupar actualmente será praticar ecodriving e tentar abastecer onde ficar mais barato.

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Comentários

Rui Augusto
03/02/2011 15:36
concordo com a tua conclusão, mas há que acrescentar que quem opta por um carro eléctrico não tem apenas a poupança em combustível em mente. No entanto é preciso começar por algum lado para se ter um volume de produção de carros eléctricos que permitam baixar os seus preços.
Pedro
Pedro
23/06/2011 15:30
Em termos ambientais também não compensa! O custo ambiental é superior num carro eléctrico nos preços actuais.
Para compensar o custo do CO2 gasto pelo carro actual podem-se comprar créditos de carbono. O valor desses créditos de carbono durante a vida útil do automóvel é muito INFERIOR à poupança que se teria ao obter um carro eléctrico. E com isto nem se está a contar com o custo ambiental de fabrico e reciclagem das baterias do carro eléctrico!
Fazendo as contas MUITO por alto, o custo em créditos em carbono para compensar as emissões de CO2 de um carro a gasolina durante 100.000km a consumir 7L/100km custa menos de 400€!

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